quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Cultivar o que é importante está no nome!

por Géssika Vieira

Cultura significa cultivar, e vem do latim colere. Genericamente a cultura é todo aquele complexo que inclui o conhecimento, a arte, as crenças, a lei, a moral, os costumes e todos os hábitos e aptidões adquiridos pelo homem não somente em família, como também por fazer parte de uma sociedade como membro dela que é. A principal característica da cultura é o mecanismo adaptativo que é a capacidade, que os indivíduos tem de responder ao meio de acordo com mudança de hábitos, mais até que possivelmente uma evolução biológica. A cultura é também um mecanismo cumulativo porque as modificações trazidas por uma geração passam à geração seguinte, aonde vai se transformando perdendo e incorporando outros aspectos  procurando assim melhorar a vivência das novas gerações.

A cultura em nossa região existe, mas infelizmente não é tão aflorada como gostaríamos que fosse. Devido e tantas falhas vivemos em um mundo que carrega índices tristes. A advogada militante nas áreas cível e trabalhista, há 08 anos na Comarca de Patos de Minas e Região, Kátia Mendes de Andrade, nos fala sobre o assunto.

VC: Como advogada, você acompanha índices cruéis sobre assuntos delicados. Você acredita que se movimentos e atividades culturais fossem inseridas no dia a dia das pessoas, esses números poderiam ser revertidos?
KM: Sem dúvidas. São raros os casos de pessoas que, uma vez inseridas, definitivamente, em movimentos e atividades culturais, tomam o rumo da criminalidade, por exemplo. Entendo, inclusive, que projetos sócio-culturais devem fazer parte de uma política preventiva de combate ao crime e ao uso de drogas. Entretanto, nós sabemos que cultura, num sentido amplo, normalmente, só chega até as comunidades carentes por meio da sociedade civil, através de ONG’s, como é o exemplo do AfroReggae no Rio de Janeiro ou pela Cooperifa, encabeçada, dignamente, pelo poeta Sérgio Vaz, em São Paulo. Infelizmente, uma obrigação que seria do Estado, ante a inércia deste, acaba ficando nas mãos do cidadão comum. Isso quando existem cidadãos que se propõem a tal iniciativa. Particularmente, em Patos de Minas, desconheço qualquer projeto sócio cultural, seja do governo municipal ou de ONG’s, que tenham como público alvo as áreas mais carentes da cidade. Uma vez ou outra, ficamos sabendo de eventos isolados nessas comunidades, mas nada em termos de ações duradouras, o que é lamentável. 

VC: Vivemos numa sociedade que infelizmente não sabe definir o que é melhor pra ela própria, na maioria das vezes, isso tem a ver com uma identidade cultural falha?
KM: De certa forma, sim. Como disse em pergunta anterior, cultura agrega uma série de coisas. E, infelizmente, temos a mania valorizar culturas e costumes que não são nossos. E isso inclui também os nossos artistas, sejam eles regionais ou nacionais. Por exemplo, certa vez, perguntei a um promotor de eventos da cidade porque não contratam um show do Milton Nascimento. Obtive, como resposta, que em Patos de Minas não existe público para show de um dos melhores e mais conceituados cantores da MPB, dentro do Brasil e no exterior. Obviamente, fiquei irresignada, pois acredito que há público, em nossa cidade, para um artista do nível do Milton Nascimento, o expoente mineiro na música brasileira. Em contrapartida, se trouxerem uma banda de axé, por exemplo, o sucesso de público é garantido. Nada contra quem goste de Axé Music, mas, não é “nosso”. “Geração Coca Cola”, da Legião Urbana, fala sobre isso. Desde a década de 60 e com acentuação significativa a partir da década de 80, através da mídia, que nos trata como “robôs”, a sociedade se acostumou a “modismos”. A princípio, foram os “enlatados” americanos e, atualmente, é qualquer coisa que tenha se tornado “meme” na internet. Nesse sentido, da mesma forma que essa diversidade cultural é democrática, também pode ser nociva se não preservarmos a cultura local. 

VC: Como a cultura deveria ser inserida nas cidades, na sua opinião?
KM: A inserção de cultura, na sociedade, de uma forma geral, deve ter como ponto inicial, projetos sócio-educativos permanentes. Cultura é um hábito que desde cedo deve ser incentivado. Se os municípios não conseguem implantar projetos permanentes em cada bairro, que tal incumbência seja das escolas. Com todo orgulho do mundo, digo que fui aluna do Colégio Tiradentes – PMMG, da 5ª série ao último ano do ensino médio. Coincidentemente, sábado estive no Colégio, a convite de um amigo, na festividade de encerramento do 25º Projeto Cultural (na minha época era “Semana Cultural”). Mas, enfim, há 25 anos o Colégio Tiradentes, desta cidade, para a realização do Projeto em comento, estimula, durante todo o ano, que os alunos se interessem por música, teatro, dança, literatura ou trabalhos manuais, como pintura e artesanato. Portanto, para quem estuda ou estudou naquela escola, a “sede” por cultura é um hábito inserido em sua formação. Nesse sentido, se cada instituição de ensino seguisse tal exemplo, teríamos um número bem maior de pessoas interessadas por cultura e, via de conseqüência, os governos, de todas as esferas, seriam pressionados a dar mais incentivo e também criar mais eventos sócio-culturais. 

VC: Você acredita que a cultura pode transformar uma sociedade?
KM: Claro. Como afirmei anteriormente, quanto mais cultura, maior a capacidade de discernimento, de argumentação do indivíduo. Logo, se temos uma população ávida por cultura, teremos, por motivos óbvios, uma população mais questionadora e mais exigente, consciente sobre seus direitos e deveres. E uma população “pensante” resulta, indiscutivelmente, em governos mais eficientes. Educação e cultura são os caminhos. Não há outros.

Nenhum comentário:

Postar um comentário