terça-feira, 25 de setembro de 2012

Paisagens de uma Memória

Por Aiandra Faria

A diretora municipal de cultura Mara Porto, está com um trabalho exposto no Museu de Patos de Minas. A exposição “Paisagem de uma Memória” mostra fotografias que relatam lembranças da artista e também fazem um apelo a preservação ambiental. A ideia partiu das incontáveis memórias da artista, que voltou ao passado e resolveu expor, através de fotografias, um pouco do que já viveu. O trabalho também mostra fotos de cortes de tronco de árvores, uma maneira que encontrou para alertar sobre o desmatamento. Através da exposição Mara pode relembrar locais onde viveu na infância e que trazem boas lembranças.

Varanda Cultural: por que você escolheu esse título para a exposição?
Mara Porto: o Título da Exposição - Paisagem de uma Memória - indica a relação do meu encontro com as reminiscências do meu passado, a criação deste título vai ao encontro de uma passagem limiar das paisagens da natureza com a minha memória da infância.




Varanda Cultural: qual é a ideia da exposição? De onde partiu?
Mara Porto: a ideia desse trabalho consiste em realizar uma pesquisa do meu processo pessoal de criação nas artes visuais; o interesse pela vertente da pesquisa em arte que não descarta o resultado, mas que dá ao processo uma ênfase maior sempre foi de extrema importância para a minha pesquisa. Desta maneira desloco-me para a fazenda de minha avó, a 73km de Patos de Minas/MG, para vivenciar a pesquisa em busca de memórias afetivas de minha infância, de encontros com lugares de fluxos, de intensidades contínuas, de vivências, de conjunções entre natureza e criação.
Uma bata utilizada em meu batismo foi colocada em um cabide e disposta em lugares que rememorassem a minha infância (estes lugares são espaços que vivenciei quando era criança). Através desta intervenção passei por espaços, situações e assim pude criar novas paisagens que se desdobraram através da minha memória; desta maneira o trabalho resultou em uma instalação fotográfica e fonográfica que mostra minha relação com a natureza desde a infância; a localização geográfica da fazenda foi gravada por um GPS - Global Positioning System (Sistema de Posicionamento Global) - mostrando o desenho do percurso percorrido, o áudio registrou os sons dos lugares e as fotografias foram expostas juntamente com a bata.

Varanda Cultural: como é abordado o tema do meio ambiente em seus trabalhos. Por quê?
Mara Porto: a abordagem do tema ambiental na arte está em sintonia com importantes circunstâncias atuais da arte e temas sociais contemporâneos. As ilhas de paisagens naturais dentro do perímetro urbano têm sido cada vez mais delimitadas; a transgressão da natureza em meio à confusão urbana movimenta uma sobrevivência dilacerada e realiza um "milagre" de adaptação, frente às condições adversas que são encontradas.
A produção atual de trabalhos contextualizados na arte ambiental (uma vertente artística que surgiu através da arte contemporânea) pode gerar reflexões e indagações socialmente importantes para a tomada de consciência e mobilização em torno das situações presentes e crescentes na sociedade, em relação ao meio socioambiental e artístico.
A presença intrínseca da natureza em meus trabalhos tem o interesse, de aproximar, em minha pesquisa, questões relacionadas à natureza. Do mesmo modo, o interesse pela pesquisa na vertente em arte ambiental se dá também por acreditar que os artistas que trabalham com o meio ambiente em suas criações, não têm a pretensão de se expressarem somente como indivíduos, como artistas, mas sim como partes de uma unidade maior, ou seja, trabalhos que refletem uma consciência social, interligada em propor uma mensagem direcionada à sociedade em geral e que pretendem aproximar a arte, a estética e a natureza à vida cotidiana.
Estes trabalhos realizados ao ar livre, fora da cidade, buscam uma espécie de espaço ideal de existência, “um pós-paraíso dessacralizado, palco de eventos de ação e movimento, onde as encenações nunca se repetirão – lugar sem retorno, efetivação de puras singularidades sem volta.” (BALTAR, 2010, 75).

Varanda Cultural: o que as pessoas podem conferir durante a exposição?
Mara Porto: o resultado final deste trabalho se encontra no Museu de Patos e pode ser visto como resultado da exposição - imagens fotográficas, bem como o som dos lugares fotografados, e fotografias e serigrafias de troncos de árvores.
Para quem deseja conhecer o trabalho, a exposição está aberta para toda população. No Museu de Patos. Ela foi prorrogada e ficará aberta ao público até dia 06 de outubro – os horários de funcionamento são: segunda a sexta, de 12h às 18h, e sábado, de 18h âs 21h.

Mara Porto é graduada em Artes Plásticas pela Universidade Federal de Uberlândia; Pós-graduada em Gestão Cultural; atualmente trabalha como Diretora de Cultura na Secretaria de Cultura de Patos de Minas e como Professora de Dança Contemporânea da Academia Adriane Gonçalves no Núcleo de Pesquisa em Dança Contemporânea.






Conheça o Festival Marreco


Por Clarissa Patrício / Entrevista: Géssika Vieira

O Festival Marreco é um evento que tem como objetivo evidenciar todo e qualquer tipo de expressão artística em Patos de Minas e região. A edição deste ano aconteceu no Mocambo, no período de 29 de agosto a 02 de setembro, e contou com a presença de centenas de pessoas que foram prestigiar todas as atrações oferecidas pelo Festival.


Com a organização do Coletivo Peleja e do Circuito Fora do Eixo, o Festival Marreco promove a disseminação da arte em todas as suas formas, exaltando sempre a liberdade e a diversidade. O Blog Varanda Cultural conversou Ciro Nunes, que faz parte do planejamento do Coletivo Peleja e é baterista da banda Vandaluz, a respeito do que é o Festival Marreco e como ele é organizado.




Confira o nosso bate-papo!

Varanda Cultural: o que é o Festival Marreco?
Ciro: a intenção do Festival é promover um evento no qual exista espaço para debate, formulação de ideias, mostra de trabalhos autorais e desenvolvimento de ações. O Festival preocupa-se em ser impulso, plataforma de lançamento de quaisquer expressões artísticas, principalmente, de estilos musicais, com total e ampla liberdade de manifesto. Procurando eliminar o estigma de que quando se gosta de um estilo os demais são considerados ruins ou sem valor, Monocultura, que só desgastam e empobrecem tanto a terra como a criatividade. JUNTOS SOMOS UM.
O Festival Marreco faz parte do Circuito Mineiro de Festivais Independentes, que promove a circulação de bandas e agentes da cadeia produtiva da música em várias cidades de Minas, difundindo a rede que vem sendo sedimentada pelo Circuito Fora do Eixo, contribuindo para a formação de um público extenso, crítico e aberto a novas formas de expressão cultural.

Varanda Cultural: qual é o objetivo do Festival Marreco?
Ciro: Intercâmbio Cultural, estímulo a criação autoral, espaço de discussão formulação de idéias, espaço de mostra artística de diferentes áreas...

Varanda Cultural: como e por quem ele é organizado?
Ciro: é organizado pelo Coletivo Peleja e pelo Circuito Fora do Eixo, graças à rede que foi consolidada através de 5 anos de trabalho e pesquisa,  pautando-se sobretudo no contato direto com produtores de outros estados, por meio de uma rede de informações e sob uma lógica da união de pequenos em prol de grandes ações.

Varanda Cultural: há apoio da Prefeitura Municipal de Patos de Minas?
Ciro: sim. A prefeitura dá apoio com prestação de serviços, tais como limpeza, alvará, empréstimo de mão de obra.

Varanda Cultural: quais são as parcerias com que o Festival conta?
Ciro: Temos várias parcerias agregadas, desde produtores independentes, a empresas consolidadas tais como HZ Hotel, Alecrim Restaurante e Conexão Vivo.

Varanda Cultural: qual foi o retorno do público no que diz respeito à realização do Festival?
Ciro: foi ótimo, a cada ano que passa o Festival amadurece e o público também. Este ano cerca de 5 mil pessoas circularam pelo Festival.

Varanda Cultural: por que o Festival se chama "Marreco"?
Ciro: é uma alusão ao nome de Patos de Minas.

Varanda Cultural: Há alguma novidade já formulada para o próximo Festival?
Ciro: ainda não, estamos na pós-produção e fechamento desta ultima edição.


Ciro Nunes nos informou também que a próxima edição do Festival Marreco ocorrerá em setembro de 2013! Aguardem!

Na capital do milho, quem tem voz e violão é rei

Por Camila Gonçalves

Abençoados sejam os deuses da música que fizeram de Patos de Minas uma terra repleta de talento. Nessa cidade, cujo cenário cultural é composto por grandes artistas dos mais variados segmentos, nasceram relevantes nomes da cena mainstream, alguns mais antigos, como Osmano e Manito e Dalla, outros mais recentes, como Gusttavo Lima e Arthur Danni. No entanto, é no campo alternativo que a capital do milho tem se destacado nos últimos anos, graças às inúmeras bandas de notável qualidade e potencial que aqui nasceram. A forte carga cultural carregada pelo município somada à juventude da população universitária, que em busca da conclusão dos seus estudos aqui se erradicou, compõe o cenário perfeito para a ascensão de grandes estrelas. Isso sem falar nos famosos bares com música ao vivo, que, assim como em qualquer outra cidade, ajudam os artistas a arcarem não só com os elevados custos para a manutenção e para a aquisição de equipamentos, como também os de gravações e de viagens.
Para o músico e advogado sangotardense com alma, jeitinho e coração patense, Eduardo Ribeiro, dentro do cenário alternativo de Patos de Minas é possível destacar bandas e músicos que, com muita maestria, estão levando a cultura do “uai” e da “pamonha do Aguinaldo” mundo afora com fórmulas únicas e, comprovadamente, bem sucedidas. O Vandaluz é um excelente exemplo disso. “Há muito tempo na estrada, a banda, composta por músicos experientes e competentes, mescla a poesia, a música experimental e uma pitada de teatro, originando um som extremamente maduro e ousado que vale a pena conferir”, conta.


Para Eduardo, outras duas grandes bandas “made in Patos de Minas” são o Erbert Richard e O Berço. Com uma proposta totalmente diferente da anterior, explica o músico, o grupo, encabeçado por Eduardo Moe (compositor, guitarrista e vocalista) segue uma linha mais voltada para o indie rock ao trazer elementos do rock inglês dos anos noventa e composições com letras em inglês. “Para mim, o único álbum do Erbert Richard, “The Lucid Amp”, é um dos melhores trabalhos musicais já produzidos no município, um resultado da genialidade dos seus integrantes e do dedo do produtor Alan Delay, que também é baixista do Vandaluz”, constata Eduardo. A banda “O Berço”, por sua vez, faz um som enraizado nas culturas folk e country americana. As ótimas letras em português, contudo, conferem a essa mistura uma atmosfera autenticamente brasileira, refletindo a miscigenação de culturas, marca registrada do país. Segundo Eduardo, apesar do projeto ser recente, ele traz a solidez de uma família. A propósito, um detalhe muito importante: eles são uma família. Afinal, quase todos os membros do grupo são irmãos ou primos. Essa fórmula, que já embalou grandes bandas desde os tempos mais remotos do rock, como Creedence Clearwater Revival, até os tempos atuais, como Kings of Leon, é um dos maiores diferenciais do som desses rapazes.





Em meio às guitarras distorcidas e às baterias enfurecidas do Erbert Richard e do Vandaluz, bem como às canções criativas e simples do Berço, um artista se destaca pela sutileza das suas letras e melodias. O cantor e compositor patense, Hebreu, produz um som distante do rock, seguindo a linha mais MPB de artistas já consagrados como Lenine, Adriana Calcanhoto, Paulinho Moska, entre outros. Na opinião de Eduardo, as suas canções de altíssima qualidade o tornam um forte candidato a representar a região entre os grandes nacionais futuramente.



Enfim, Patos de Minas conta com músicos que agradam todos os gostos, todas as tribos. Por isso, suba o som dos vídeos acima sem medo e conheça um pouco mais do trabalho de cada um.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Saiba mais sobre a Universidade Livre Fora do Eixo

Por Géssika Vieira

Muito bem-vindos a nossa Varanda! Trouxemos pra vocês um papo super esclarecedor sobre a Universidade Livre Fora do Eixo, que desenvolve projetos culturais por todo o Brasil. O nosso convidado foi o Clayton Nobre que atua na Universidade desde 2009, e é coordenador da Fora do Eixo aqui em Minas.




Varanda Cultural: Clayton, o que é a Universidade Livre Fora do Eixo?
Clayton: a Universidade Fora do Eixo é um projeto de formação desenvolvido pela rede cultural Fora do Eixo, que integra cerca de 120 coletivos culturais articulados numa enorme teia que envolve todo o Brasil, desenvolvendo ações no campo da economia da cultura, criativa e solidária, bem como da comunicação livre. A UniFdE trabalha principalmente a partir de metodologias como troca e compartilhamento livre de conhecimento e vivências e tem como foco a estruturação e o fortalecimento de coletivos e empreendimentos solidários culturais.

Varanda Cultural: qual é o objetivo da Universidade Livre Fora do Eixo?
Clayton: um dos principais objetivos da Uni FdE é promover o conhecimento em rede a partir da valorização e conexão das práticas autorais criativas e do saber empírico e popular nos mais diversos campos da cultura brasileira.

Varanda Cultural: como e por quem ele é organizado?
Clayton: a Universidade Fora do Eixo tem mais de 150 campi espalhados no Brasil, por meio de ações desenvolvidas pelos coletivos em seus territórios. Cada campus é organizado pelo núcleo local que coordena a UniFdE, que por sua vez recebe acompanhamento e suporte de um conselho nacional formado por agentes de São Paulo, Rio Grande do Sul, Pará, Minas Gerais e Fortaleza.

Varanda Cultural: há apoiadores?
Clayton: a UniFdE integra uma rede de iniciativas de formação com pauta na cultura chamada Universidade das Culturas (UniCult), e ainda tem apoio de outras redes latino-americanas como Cultura de Rede, Rede Sul-Americana de Dança, Rede Brasil de Festivais. Além disso, cada campus da UniFdE situado em um território desenvolve parcerias de âmbitio municipal ou estadual.

Varanda Cultural: onde a Universidade atua?
Clayton: a Universidade não tem lugar fixo. São mais de 150 campus permanentes, compreendendo coletivos culturais que desenvolvem uma agenda fixa de projetos tais como observatórios, vivências, oficinas, etc. E também conta com mais de 150 campi temporários, que relaciona os eventos organizados pela Universidade, ações em festivais, congressos, etc.

Varanda Cultural: qual foi o retorno do público quanto a Universidade?
Em cada campus a Universidade tem demostrado interesses diversos. Em uma semana após o lançamento de seu ano letivo no último semestre de 2012, a UniFdE recebeu mais de 500 inscrições de agentes da cultura interessados em participar das ações desenvolvidas pela Universidade, compreendendo interesses em áreas como gestão cultural, linguagens, formação política, etc.

Varanda Cultural: por que o nome ''Fora do Eixo''?
Clayton: a Rede se iniciou em 2005 a partir de uma vontade bastante latente de despontar a cena do interior do Brasil ou de cidades que estavam fora do eixo Rio - São Paulo. A conjuntura de crise de indústria cultura foi grande facilitadora para que se construísse um circuito independente de cultura, que pude criar mecanismos autogestionáveis e autocriadores.

Varanda Cultural: conte pra nós, sobre sua atuação na Universidade.
Clayton: hoje coordeno e acompanho as ações desenvolvidas especialmente no âmbito de Minas Gerais e tenho a Casa Fora do Eixo Minas, onde moro, em Belo Horizonte, como grande facilitadora. Junto com outros coordenadores, desenvolvemos e pensamos ações conjuntas que possam potencializar a sistematização e circulação do conhecimento que é produzido dentro da rede.

Veja algumas fotos do pessoal!








Contatos: http://www.youtube.com/webtvforadoeixo http://www.facebook.com/UniFdE @unifde

UNIPAM promove " Festival Charles Chaplin"

Por Débora Viana

As obras cinematográficas de Charles Chaplin são referências do cinema mudo do século XX. Mas, apesar de muito se falar e se discutir sobre seus clássicos poucas pessoas efetivamente viram seus filmes. Pensando nisso, o Centro Universitário de Patos de Minas (UNIPAM) realizará o “Festival Charles Chaplin” durante o decorrer do segundo semestre de 2012.
A exibição dos filmes é aberta a toda comunidade e com certeza vale a pena participar!
O blog Varanda Cultural conversou com o Professor Luís André Nepomuceno que é um dos idealizadores do projeto sobre o festival e a obra de Charles Chaplin. Veja abaixo a entrevista na íntegra:

Varanda Cultural: professor, no que consiste a ideia desse Festival de Cinema com Charles Chaplin?
Luís André: a ideia surgiu de levar ao público uma coisa que já está de certa forma perdida para as novas gerações. Chaplin sempre foi um grande clássico do cinema do século XX, inicialmente do cinema em preto e branco, mudo, mas posteriormente do próprio cinema clássico de meados do século XX. É uma referência sempre falada, sempre discutida, mas pouco vista. Então a ideia era fazer com que o Chaplin, que é tão famoso, tão lembrado, fosse visto efetivamente e discutido efetivamente. Porque muita gente tem o pôster de Chaplin em casa, muita gente conhece a imagem do personagem dele, mas pouca gente efetivamente já o viu e já discutiu e falou sobre ele.

Varanda Cultural: fale um pouco para nós sobre as obras de Chaplin e sobre como ele contribuiu para o cinema e para formação crítica da sociedade da época.
Luís André: bom, os rumos do cinema do século XX dependem de certo modo, diretamente ou indiretamente, das ideias geniais de Chaplin ali por volta dos anos 20,30 até 40. Ele foi um grande revolucionário do cinema mudo, o Chaplin na verdade se formou no teatro inglês em Londres, aprendeu sobre o gesto, a mímica, o trabalho do ator, do contato com público e tentou trazer essa ideia do teatro para o cinema. Nisso ele foi revolucionário. Quando ele surgiu como cineasta e também como ator também revolucionou a ideia da comedia trazendo psicologia, dramaticidade, sofrimento, densidade na comedia. Há grandes revoluções no teatro de Chaplin.

Varanda Cultural: o que os filmes exibidos durante o festival têm em comum? Qual a essência desses clássicos?
Luís André: na verdade nós pensamos no contrário, no que eles não tinham em comum e no que eram diferentes. A gente pegou momentos muito díspares da obra do Chaplin, o filme Casamento ou Luxo, por exemplo, é da década de 20. Já o filme Luzes da Cidade é de 1931, Tempos Modernos de 1936 e o Luzes da Ribalta só da década de 50. Então, a gente tentou pegar várias faces do Chaplin, desde o Chaplin da pantomima, da comédia, até um pouco do pastelão também. Mas, ao mesmo tempo um Chaplin mais maduro, mais reflexivo, mais velho. Então nós buscamos uma diversidade no Chaplin, o jovem, o cômico, o pastelão, o político, o social e a reflexão mais na maturidade.

Varanda Cultural: existe uma mensagem em comum deixada pelos filmes?
Luís André: bom, é difícil pensar alguma mensagem em comum nesses quatro filmes em especial. Mas, o que eu diria é que o velho Chaplin sempre tem um pouco das suas reflexões de sempre, é um artista de caráter fortemente social que tem um olhar agudo para as diferenças sociais, mas ao mesmo é um artista extremamente poético, lírico, romântico. O fato de ele ter saído das classes baixas contribuiu muito pra esse olhar social, ele viveu a pobreza em Londres. Sua mãe tinha doenças mentais, o pai era alcoólatra, ele já viveu nas ruas com os irmãos e já passou fome, também foi para orfanatos. Ele viveu a realidade social das contradições do final do século XIX na Inglaterra de forma intensa. Por isso, uma das características mais fortes do cinema de Chaplin é a denuncia das diferenças sociais, das contradições sociais. Mas, ao mesmo tempo ele sempre coloca a ideia de um par romântico, de um encontro poético entre as pessoas em seus filmes.

Varanda Cultural: o que esses filmes podem acrescentar na visão do público?
Luís André: é interessante a pergunta e antes de falar sobre isso, o que me ocorre, antes de qualquer coisa, é o quanto Chaplin é capaz de agradar todos os públicos. Desde crianças de oito anos, eu já fiz essa experiência, até em idosos, passando por pessoas intelectuais e por pessoas que não fazem noção do que foi o cinema do século XX, enfim, ele tem uma capacidade inigualável de agradar a todos. Justamente por isso que eu estava dizendo, ele é engraçado, ele é românico, ele é político, ele é divertido, ele é tudo ao mesmo tempo. Então, a primeira coisa a se pensar é isso. Mas, voltando à pergunta, eu acho que o Chaplin tem o seu lado político, seu lado sociológico e um pouco do que ele trás para nós e, isso o público vai aprender com ele, é refletir sobre as contradições sociais. Eu acho que o cinema dele é uma coisa muito séria, apesar das piadas, das graças, do humor, mas, não deixa de ser uma reflexão muito séria sobre os problemas sociais, sobre pessoas vivendo dramas sociais, mas, ao mesmo tempo tentando encontrar saídas para isso.

Acompanhe os filmes e palestras sobre o cinema de Charlie Chaplin!

Local: Salão de Júri do UNIPAM (Bloco C)

Dia 22 de Setembro – “Luzes da Cidade”, com palestra de debate sob a coordenação do Prof.Luís André Nepomuceno.
Dia 20 de outubro – “Tempos modernos”, com palestra e debate sob a responsabilidade do Prof. Altamir Fernandes.
Dia 10 de novembro – “Luzes da ribalta”, com palestra e debate sob a coordenação do Prof. Moacir Manuel Felisbino.
Dia 1º de dezembro – “Casamento ou luxo”, com palestra e debate sob a coordenação do Prof. Roberto Carlos dos Santos.



Literatura e seus novos e grandes escritores

Por Naiá Fernandes / Entrevista: Géssika Vieira

O blog Varanda Cultural tem o prazer de falar sobre literatura e divulgar os artistas da nossa região. Literatura é a arte de compor escritos artísticos em verso, prosa ou poesia, e dignos de nosso respeito são aqueles que têm o dom e a habilidade para escrever dessa forma. Hoje, vamos apresentar uma nova artista, que escreveu o seu primeiro livro, Beijo de Jasmim, quando tinha apenas 14 anos. Raiany Romanni, agora aos 18 anos, está escrevendo o seu segundo livro e não pensa em parar por aqui. Determinada e com muito talento, Raiany falou para o nosso blog sobre essa experiência de escrever e sobre a sua paixão por literatura.




Varanda Cultural: Raiany, como você começou a escrever?
Raiany: respondo a essa pergunta com um trecho do meu segundo livro, Alice de olhos negros, que ainda está sendo trabalhado: "Escrevo não para contar da vida, mas para descobri-la. Escrevo porque me é um vício, e porque sou completamente deslumbrada pelo charme da literatura. Acredito que escrever seja, acima de tudo, estar em estado de graça permanente. Não se cria em um instante e não se é usado de uma vez só, aquilo que renasce nas palavras. É algo que existe o tempo todo dentro de um coração estremecido, cheio de sonhos e vontades absurdas e que principalmente têm de ser anormais, como regra única. É aquilo o que não se chama ainda, eis um segredo. Aquilo que não direi nunca por não poder assim justificar-me com os seus significados. E que justamente então descobrirei que é tudo o que já tive em mim, oh - em um susto. Tudo o que já tive e que não vive só por não haver o espaço assim entre os meus ossos para sair coisa tão grande e assustadora, que nem forma tem. Mas que há um dia de fazer-se viva. Só pra que eu entenda mais, e principalmente para que mais me espante."

Varanda Cultural: como foi escrever o seu primeiro livro? Você pretende escrever mais livros?
Raiany: foi uma experiência incrível, escrever Beijo de Jasmim. Quando comecei a escrevê-lo tinha 14 anos, então acho que pude conhecer não só mais palavras e sentimentos, mas também um pouco mais sobre mim mesma. Estou terminando o meu segundo livro já mencionado acima, que conta a história de uma garotinha orfã e introvertida, que perdeu os dois pais de uma vez só por avaria do destino e foi criada pela tia, que julgava a menina como esquizofrênica. Bom, acho que escrever é mesmo para sempre. Deixar de escrever é que seria o pecado.

Varanda Cultural: você sempre se interessou por literatura?
Raiany: desde pequena escrevo poesia. Na verdade, até hoje não sei se o que escrevo é prosa, ou se tem gênero sequer. Sei que é uma coisa que nasceu dentro de mim ainda cedo, e que se foi criando junto aos meus medos e às minhas verdades.

Varanda Cultural: você acredita que a literatura pode mudar o mundo?
Raiany: sim, a literatura muda o mundo. É um processo corrente. Pois não é mesmo o susto de cada dia que procuramos todos, tremendo e de olhos fechados, e nos enviesando toda a estrutura humana para poder sentir, em um mundo torto onde ninguém se é? Ah sim, pois é o espanto que me falta às veias, que me apavora por não sabê-lo ter nas horas fáceis e pacatas de uma vida qualquer. Pois é este o sonho: não haver manhã sem nome. E se sei de uma coisa só com certeza absoluta, é que somente com a ternura das palavras se pode fazer sonhar. E afinal, não é sonhando que se muda o mundo? Dores que vêm de dentro, as melhores são ainda anônimas. E literatura é acima de tudo uma anonimidade última. Mas de fora -ah, de fora sinto que se deve ter do que chamar. Talvez pelo egoísmo extremo de pensar que o próprio corpo não se há de justificar e só além dos orgãos é que se vê os detalhes. Embora não goste realmente de coisa detalhada, por eu mesma não saber sentir o que há além das entrelinhas.