Por Débora Viana
As obras cinematográficas de Charles
Chaplin são referências do cinema mudo do século XX. Mas, apesar de muito se
falar e se discutir sobre seus clássicos poucas pessoas efetivamente viram seus
filmes. Pensando nisso, o Centro Universitário de Patos de Minas (UNIPAM)
realizará o “Festival Charles Chaplin” durante o decorrer do segundo semestre
de 2012.
A exibição dos filmes é aberta a
toda comunidade e com certeza vale a pena participar!
O blog Varanda Cultural conversou
com o Professor Luís André Nepomuceno que é um dos idealizadores do projeto
sobre o festival e a obra de Charles Chaplin. Veja abaixo a entrevista na
íntegra:
Varanda Cultural: professor, no que consiste a ideia desse Festival de
Cinema com Charles Chaplin?
Luís André: a ideia surgiu de levar ao público uma coisa que já
está de certa forma perdida para as novas gerações. Chaplin sempre foi um
grande clássico do cinema do século XX, inicialmente do cinema em preto e
branco, mudo, mas posteriormente do próprio cinema clássico de meados do século
XX. É uma referência sempre falada, sempre discutida, mas pouco vista. Então a
ideia era fazer com que o Chaplin, que é tão famoso, tão lembrado, fosse visto
efetivamente e discutido efetivamente. Porque muita gente tem o pôster de
Chaplin em casa, muita gente conhece a imagem do personagem dele, mas pouca
gente efetivamente já o viu e já discutiu e falou sobre ele.
Varanda Cultural: fale um pouco para nós sobre as obras de Chaplin e
sobre como ele contribuiu para o cinema e para formação crítica da sociedade da
época.
Luís André: bom, os rumos do cinema do século XX dependem de certo
modo, diretamente ou indiretamente, das ideias geniais de Chaplin ali por volta
dos anos 20,30 até 40. Ele foi um grande revolucionário do cinema mudo, o
Chaplin na verdade se formou no teatro inglês em Londres, aprendeu sobre o
gesto, a mímica, o trabalho do ator, do contato com público e tentou trazer
essa ideia do teatro para o cinema. Nisso ele foi revolucionário. Quando ele
surgiu como cineasta e também como ator também revolucionou a ideia da comedia
trazendo psicologia, dramaticidade, sofrimento, densidade na comedia. Há
grandes revoluções no teatro de Chaplin.
Varanda Cultural: o que os filmes exibidos durante o festival têm em
comum? Qual a essência desses clássicos?
Luís André: na verdade nós pensamos no contrário, no que eles não
tinham em comum e no que eram diferentes. A gente pegou momentos muito díspares
da obra do Chaplin, o filme Casamento ou Luxo, por exemplo, é da década de 20.
Já o filme Luzes da Cidade é de 1931, Tempos Modernos de 1936 e o Luzes da
Ribalta só da década de 50. Então, a gente tentou pegar várias faces do
Chaplin, desde o Chaplin da pantomima, da comédia, até um pouco do pastelão
também. Mas, ao mesmo tempo um Chaplin mais maduro, mais reflexivo, mais velho.
Então nós buscamos uma diversidade no Chaplin, o jovem, o cômico, o pastelão, o
político, o social e a reflexão mais na maturidade.
Varanda Cultural: existe uma mensagem em comum deixada pelos filmes?
Luís André: bom, é difícil pensar alguma mensagem em comum nesses
quatro filmes em especial. Mas, o que eu diria é que o velho Chaplin sempre tem
um pouco das suas reflexões de sempre, é um artista de caráter fortemente
social que tem um olhar agudo para as diferenças sociais, mas ao mesmo é um
artista extremamente poético, lírico, romântico. O fato de ele ter saído das
classes baixas contribuiu muito pra esse olhar social, ele viveu a pobreza em
Londres. Sua mãe tinha doenças mentais, o pai era alcoólatra, ele já viveu nas
ruas com os irmãos e já passou fome, também foi para orfanatos. Ele viveu a
realidade social das contradições do final do século XIX na Inglaterra de forma
intensa. Por isso, uma das características mais fortes do cinema de Chaplin é a
denuncia das diferenças sociais, das contradições sociais. Mas, ao mesmo tempo
ele sempre coloca a ideia de um par romântico, de um encontro poético entre as
pessoas em seus filmes.
Varanda Cultural: o que esses filmes podem acrescentar na visão do
público?
Luís André: é interessante a pergunta e antes de falar sobre isso,
o que me ocorre, antes de qualquer coisa, é o quanto Chaplin é capaz de agradar
todos os públicos. Desde crianças de oito anos, eu já fiz essa experiência, até
em idosos, passando por pessoas intelectuais e por pessoas que não fazem noção
do que foi o cinema do século XX, enfim, ele tem uma capacidade inigualável de
agradar a todos. Justamente por isso que eu estava dizendo, ele é engraçado,
ele é românico, ele é político, ele é divertido, ele é tudo ao mesmo tempo.
Então, a primeira coisa a se pensar é isso. Mas, voltando à pergunta, eu acho
que o Chaplin tem o seu lado político, seu lado sociológico e um pouco do que
ele trás para nós e, isso o público vai aprender com ele, é refletir sobre as
contradições sociais. Eu acho que o cinema dele é uma coisa muito séria, apesar
das piadas, das graças, do humor, mas, não deixa de ser uma reflexão muito
séria sobre os problemas sociais, sobre pessoas vivendo dramas sociais, mas, ao
mesmo tempo tentando encontrar saídas para isso.
Acompanhe os filmes e palestras
sobre o cinema de Charlie Chaplin!
Local: Salão de Júri do UNIPAM
(Bloco C)
Dia 22 de Setembro – “Luzes da
Cidade”, com palestra de debate sob a coordenação do Prof.Luís André
Nepomuceno.
Dia 20 de outubro – “Tempos
modernos”, com palestra e debate sob a responsabilidade do Prof. Altamir
Fernandes.
Dia 10 de novembro – “Luzes da
ribalta”, com palestra e debate sob a coordenação do Prof. Moacir Manuel
Felisbino.
Dia 1º de dezembro – “Casamento
ou luxo”, com palestra e debate sob a coordenação do Prof. Roberto Carlos dos
Santos.
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